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1 de julho de 2010

Sonhe


Morávamos em Goiás naquela época. Não havia televisão ainda, então só ouviamos falar sobre o mar. Papai dizia que já tinha visto várias vezes, e que um dia me levaria para conhecer. Eu sabia que ele nunca tinha saído de nossa cidade e dificilmente sairíamos, ele nunca teve dinheiro para isso. Mas agradecia o empenho de me tirar um sorriso esperançoso. Ele trabalhava o dia inteiro numa loja de carros. O dono não era brasileiro. Os carros eram caros, e quase ninguém tinha dinheiro para comprar. O patrão do papai, resolveu então levar sua loja automobilística para o Rio de Janeiro. Meu pai estava muito preocupado, não poderia ficar desempregado. Seu patrão vendo que papai era um funcionário esforçado, quase nunca faltava e nem tampouco chegava atrasado, resolveu lhe fazer uma proposta. Convidou-o para continuar trabalhando, dessa vez no Rio. Quando papai chegou em casa, trazia consigo um sorriso de felicidade estampado em seu rosto. E assim fomos. Juntamos as melhores roupas que tínhamos, e partimos em um ônibus amarelo. Eu nunca tinha viajado. Papai me dizia que o Rio era lindo. Que havia mar, o principal. Passei a viajem imaginando como seria a praia. Que cor era o mar. Apesar do esforço, não imagina ao certo como seria. Chegamos.

Ao descer do ônibus, papai me segurou pela mão e disse que me levaria no outro dia, pois tinha
que resolver alguns problemas. Passei a noite em claro, afinal, estava prestes a realizar meu sonho.
Pode parecer bobo, ou pequeno, mas esse era o meu sonho. Acordei papai bem cedo. E assim pegamos a condução: Ipanema. Chegamos lá, papai pediu que eu tirasse os sapatos.
E assim, caminhamos pela primeira vez na areia da praia. O mar ia e voltava. E deixava espumas brancas na areia. Chegamos bem perto. Eu pus meus pés na água. Estava gelada. Um sorriso me saiu quase sem querer. E naquela manhã, realizei meu primeiro sonho.

Um comentário:

  1. Ôwn, muito lindo, muito mesmo. Bom mesmo é ter sonhos e poder realizá-los, sonhos que parecem ser tão poucos, mas que pra gente representam tanto. Encantador esse texto. Resumiria em uma palavra : sutil.

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