online

14 de junho de 2012

A verdade é que estamos todos encurralados diante de nós mesmos. Presos às mesmas condições e a procura de soluções inexistentes. Tentando, insistentemente, achar-se. Quando na verdade, se está fugindo.

Estamos todos longes de todos, embora próximos. Vestindo sorrisos, palavras, atitudes; Quando na verdade não nos pertence nada disso. Estamos à beira de cair em algo que não conhecemos e destinados a não levantar-se.

A verdade número dois, é que ninguém se preocupa tanto com o próximo, quanto consigo mesmo. Estão todos condicionados à uma guerra desnecessária com o próximo.

Esquivando-se de está só consigo mesmo e fingindo está preocupado com o próximo, quando na verdade sempre vamos fazer alguém triste. E vão nos fazer também. E isso nos faz mais fortes, sensíveis e incrivelmente felizes por está só consigo mesmo. Por ter confiança em está só. Sabendo que só assim podemos cair sem que ninguém nos empurre e ria.

Apaga o cigarro, beba a última dose dessa bebida amarga e olhe para si mesmo. Vês pela primeira vez uma imagem pura, inacabada, de algo que ninguém nunca consiguiu ver. E nunca consiguirá. Esse é você.

Vitor Alencar.

18 de julho de 2010

Primeiro dia dos pais.


Fui criado longe de meu pai, nunca tive uma imagem dele, nem física , nem tampouco psicológica.
Nunca o vi, nem ao menos por foto. A figura masculina que me foi útil durante toda a minha vida foi a de meu avô materno, que hoje não encontra-se mais neste plano. Nele, com toda certeza, tive a melhor a figura paterna e mais eficiente que existe. Ele que comparecia nos eventos de dia dos pais que havia todos os anos na escola. Mas apesar de todo esse aparente preenchimento, eu sabia que a presença do meu pai era algo que me fazia falta. Por algum tempo estive tentando sucumbir de mim mesmo alguma característica física que não havia em minha mãe, que então seria de meu pai, mas fui crescendo e esquecendo de tudo que me ligasse a ele. Mamãe nunca falava sobre o assunto, e por ser algo que a incomodava perceptivelmente, resolvi então nunca perguntar nada a ela. E assim vivi todos esses anos, guardando comigo um vazio, que ninguém pôde preencher, mas que aprendi a viver perfeitamente assim. Sempre ouvi minha avó dizer que agosto é o mês do desgosto. Pra mim, de certa forma, sempre tem sido, afinal, é o mês do dia dos pais. Mas nesse agosto aconteceu algo que não me deixou nem um pouco desgostoso. Recebi uma ligação pela manhã, era um homem, com uma voz meio falha. Dizia-se meu pai e que queria me conhecer. Achei que fosse alguma brincadeira de mal gosto, mas pela sua voz não parecia ser. Pediu meu endereço e eu dei. Talvez não deveria ter dado, já pensou se fosse um ladrão ou sei lá? Mas dei, num gesto de impulso. Por volta das onze horas da manhã a campainha tocou. Abri a porta. Me deparei com um senhor mais baixo que eu, cabelos grisalhos e com um olhar um tanto sofrido. Engoli a saliva e pedi que entrasse e se sentasse. Assim ele fez. No começo havia uma barreira muito grande entre nós, uma espécie de gelo. Até que ele começou a contar o que havia ocorrido. Ele era casado e minha mãe teria sido uma aventura de sua juventude. E eu, apenas o fruto. Ao ouvir o desfecho que a história estava tomando, pedi com um ar constrangedor que ele se retirasse. Ele não insistiu, mas deixou-me o seu telefone, caso eu mudasse de idéia. Passei a semana inteira recordando aquele acontecimento. Estava impaciente. Coincidência ou não, era agosto, mês do dia dos pais. Tomei uma decisão. Liguei para ele pedindo que viesse passar o dia dos pais comigo, eu ia levá-lo para almoçar. Foi então, o meu primeiro dia dos pais, com pai e paz.

Depoimento de um viciado

Nasci no Rio de Janeiro, em uma favela. Nunca freqüentei escola alguma, nem eu e nem meus seis irmãos. Com treze anos fiz meu primeiro assalto, com um revólver meio enferrujado, mas que ainda fazia um estrago grande. No começo eu usava o dinheiro para fins familiares, ajudava minha mãe e meus irmãos. Mas depois conheci a maconha, a cocaína e por fim o crack. Me tornei um viciado, perdi vinte quilos e como não tinha dinheiro para financiar as demais drogas, tive que praticar assaltos para conseguir dinheiro. Cheguei ao ponto de realizar cerca de vinte assaltos por dia. Até que numa tarde, no centro da cidade, fui capturado por dois policiais. Hoje, trinta e um de dezembro estou aqui no presídio, vendo os fogos pela pequena grade que há na cela em direção ao céu.

17 de julho de 2010

live




Quando completei dezoito anos não me veio outra coisa na cabeça senão fazer o que eu sempre quis. Pedi de presente uma mochila daquelas bem caras, com vários compartimentos. Coloquei algumas roupas, tirei meu passaport. Fui inicialmente para Portugal, com o pretexto de visitar uma tia. Ao chegar lá, procurei um emprego e consegui em um barzinho de uma avenina de Lisboa. Nesse emprego eu conheci muita gente e fazia questão de fazer o serviço conforme o combinado. Juntei alguns meses um dinheiro e larguei o emprego. Dessa vez fiz uma turnê pela Europa, com aquela minha mochila preta com cinza, que hoje já tá velhinha, mas que já me foi muito útil e me trás boas recordações. Passei por cada lugar lindo, conheci tanta gente. Foi tudo conforme eu imagina. Ainda tenho algumas fotos amareladas no fundo da gaveta. Conheci cada garota bonita, uma que recordo com certa saudade é uma Italiana que vivia no norte da França, tinha o cabelo azul, da cor dos olhos. Linda e louca. Nos divertimos muito naquelas noites frias da Europa. Tenho saudades dos restaurantes, barzinhos, metrôs, praças...Foram os quinze anos mais intensos da minha vida. Se possível, faria tudo novamente.

9 de julho de 2010

Por um fio

Nessa noite não dormi um minuto sequer. Você aí nessa cama, deitado e paralisado me deixa tão angustiada. Não posso esconder, mas senti um medo muito grande de ti perder. Enquanto seus batimentos cardíacos passavam na pequena tela em cima da sua cama, eu fiquei relembrando de todos os momentos que vivemos. Estou disposta a esquecer as brigas, os desentendimento e até mesmo as traições, se por ventura existiram. Mas se mesmo assim você partir, não se preocupe, eu esquecerei da mesma forma. Não poderia deixar de lembrar da tarde em que nosso primeiro filho nasceu. Você ficou tão bobo, ia ser pai de um bebê lindo. Lembro que você sempre foi um pouco pai para mim. Sempre que eu me encontrava em dificuldade, você me ajudava sem exitar. E da mesma maneira eu fiz. Mas agora me vejo tão impotente diante das situações. E você, que sempre foi tão forte, capaz de enfrentar um mundo inteiro, agora está aí, deitado nessa cama, incapaz. E agora, se você for embora, eu não vou ficar triste. Porque ontem a noite, enquanto eu lhe observava, você me sorriu de leve, com a alma. E algo me dizia que você estará sempre comigo, pois dividimos uma vida, e agora somos ligados espiritualmente, meu amor.

8 de julho de 2010

Nem tudo é o que parece ser


Sou dono de um grupo de empresas muito importante. Tenho quatro carros, uma casa de luxo, um apartamento na praia. Tenho tudo. Ou melhor, quase tudo. A maioria das mulheres sempre vêm até a mim por interesse financeiro. Até minha ex-mulher, na qual tive dois filhos. Sempre estou estressado devido ao cotidiano que levo nas empresas. Por isso resolvi tirar férias e fazer um cruzeiro que tinha lido outro dia em uma revista. O navio era muito grande e tinha de tudo um pouco. Durante a noite fui na boate. Havia muita mulher bonita. Mas todas jovens, que conseqüentemente iria se interessar somente no meu dinheiro. Antes de sair percebi que havia um moça, alta, dos olhos castanhos. Me chamou muita atenção. Fui até ela e perguntei seu nome. Nos conhecemos naquele momento e logo após fomos para meu quarto. Passamos todos os dias do cruzeiro juntos, dançando, se divertindo. Ela era muito jovem, cheia de vida. Eu gostei muito dela, mas logo minha auto-defesa me lembrava que podia ser só mais uma interesseira. Ela parecia ser jovem demais para ter alguma coisa na vida. Talvez nem tivesse faculdade. No último dia, me esquivei dela para não trocarmos endereços nem telefones, pois eu tinha o receio de ser mais uma mulher que quisesse apenas meu dinheiro. Fui embora. Aqueles momentos não saíam da minha cabeça. Ela era linda, muito doce, cheia de si. Cheguei em casa, joguei as malas na sala e fui para meu quarto. Olhei rapidamente para o criado mudo da cama e vi a revista na qual eu tinha descoberto o cruzeiro. Era ela na capa, dona da empresa de viagens.


5 de julho de 2010

Fim

Meu casamento estava um fracasso. Eu tentava me manter firme, mas estava cada vez mais difícil. Hayalla era uma pessoa muito difícil. E eu, claro que tenho minha parcela de culpa. Sempre trabalhei muito, e chegava em casa cansado, sem tempo para mulher e filhos. Mas certo dia tive que chegar um pouco mais tarde do que de costume e ela ficou com uma pulga atrás da orelha. Andou rondando meu escritório alguns dias depois e chegou a uma conclusão: eu estava a traindo com minha secretária. Roberta sempre foi uma ótima secretária. Nunca tivemos nenhum relacionamento senão profissional. Apesar de ser uma mulher muito atraente e bonita, nunca me deixei levar pela atração. Ela nunca me deu motivos para começarmos uma relação extra-conjugal e nem eu estava disposto a trair minha família. Roberta também era casada e tinha filhos. Sempre fora uma mulher muito responsável. Mas Hayalla continuava insinuando que eu estava a traindo. Eu já estava cansado disso tudo, mas não podia me separar naquele momento. Nossos filhos ainda eram pequenos. Precisavam da presença de ambos na casa. Até que um dia, Hayalla fora até meu escritório juntamente com um revólver. Ao chegar, encontrou eu e Roberta na recepção conversando com alguns clientes. Ela não exitou. Apontou em nossa direção dizendo que queria nos matar. Ao disparar, o tiro atingiu um cliente. Ele foi levado ao hospital, mas infelizmente não sobreviveu. A assassina tentou fugir, mas logo após os policiais levaram-a. Foi condenada por assassinato e foi parar em um presídio. Mas há alguns anos fora transferida para um manicômio. Estava louca, dizia não está arrependia e que queria consumar o assassinato de Roberta. Até hoje ela está internada. Isso já faz nove anos. Meus filhos já cresceram e foram muito bem educados sem a presença da mãe. Me arrependo por não ter me separado antes, teria evitado essa tragédia.

Uma outra face do negócio


Minha carreira começou em 1995. Foi em Copacabana meus primeiros programas. Não gostava, me sentia um objeto. Mas era um mal necessário. Já levei surra. Já fugiram sem me pagar. Já aconteceu de tudo. Eu morava com duas amigas. Elas também faziam o mesmo trabalho. Algumas vezes até fazíamos juntas. Eu era morena, Gabriela loira e Paloma ruiva. Alguns programas eram até divertidos. Algumas vezes uns gringos nos contratavam para passar o fim de semana com eles em Angra dos Reis. Era até bom. Batíamos fotos, andávamos de lancha, tomávamos banho de piscina. As casas eram muito luxuosas. Muitos eram casados, e às vezes recebiam ligações das mulheres e dos filhos. Me sentia constrangida, mas era o meu trabalho. Gabriela infelizmente morreu de overdose no quarto de um motel. Nós costumávamos usar drogas para aguentar os programas. Paloma não me deu mais notícias desde 2001. Na última vez que nos falamos ela ainda estava trabalhando nesse ramo. Eu, em 1999, conheci um italiano. Ele se apaixonou por mim e me trouxe para Itália. No começo eu não gostava dele, só me aproveitei de sua paixão para conseguir me casar. Mas ele me tratava tão bem. Me mandava flores, me levava para jantar. Me tratava como nenhum homem nunca me tratou. Acabei me apaixonando também. Nos casamos e temos três filhos lindos. Moro no sul da Itália, e mando dinheiro todos os meses para os meus pais. Tive sorte.

3 de julho de 2010

Última vez

Nós já estávamos namorando há quatro meses, mas nem um beijinho ainda. Naquela época era algo que manchava a reputação de qualquer moça. Todas as noites nos encontrávamos em sua casa, e seu pai colocava duas cadeiras de madeira na calçada. Vez por outra seu irmão
ia observar o que acontecia. O máximo que eu conseguia era pegar na sua mão. Ainda mais porque sua família era daquelas bem tradicionais. Porém, meu coração conseguia alcançar o seu de longe. Mas, eu tinha ingressado na marinha e tinha uma viagem marcada para o dia vinte e três de janeiro. Eu iria embora, e não voltaria mais. Então, passei o mês inteiro tentando me esquivar do seu irmão. Mas ele sempre estava por perto. Seria um escândalo se vissem nós aos beijos na calçada. Chegou então o dia da viagem. Você foi se despedir de mim no porto com os olhos cheios de lágrimas e um lenço na mão. E minutos antes de partir, não resisti. Dei-lhe um beijo, afinal, seria a última vez que iríamos nos ver. Todos ao redor olharam admirados, isso não era comum naquela época. Mas logo após embarquei, levando comigo a saudade e o gosto do seu beijo, o primeiro e único.

Mulheres


Elas vêm com aquele olhar conquistador, aqueles lábios sedutores, um perfume doce, aquela cintura esculpida, aquelas pernas torneadas.
E eles com uma cantada já produzida, uma conversa já programada e um papo já conhecido.
Eles, após um certo esforço, até conseguem ganhar uma ali, outra aculá.
E elas, sem pronunciarem sequer uma palavra, acabam nos ganhando fácil, fácil.
Ah, mulheres...