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18 de julho de 2010

Primeiro dia dos pais.


Fui criado longe de meu pai, nunca tive uma imagem dele, nem física , nem tampouco psicológica.
Nunca o vi, nem ao menos por foto. A figura masculina que me foi útil durante toda a minha vida foi a de meu avô materno, que hoje não encontra-se mais neste plano. Nele, com toda certeza, tive a melhor a figura paterna e mais eficiente que existe. Ele que comparecia nos eventos de dia dos pais que havia todos os anos na escola. Mas apesar de todo esse aparente preenchimento, eu sabia que a presença do meu pai era algo que me fazia falta. Por algum tempo estive tentando sucumbir de mim mesmo alguma característica física que não havia em minha mãe, que então seria de meu pai, mas fui crescendo e esquecendo de tudo que me ligasse a ele. Mamãe nunca falava sobre o assunto, e por ser algo que a incomodava perceptivelmente, resolvi então nunca perguntar nada a ela. E assim vivi todos esses anos, guardando comigo um vazio, que ninguém pôde preencher, mas que aprendi a viver perfeitamente assim. Sempre ouvi minha avó dizer que agosto é o mês do desgosto. Pra mim, de certa forma, sempre tem sido, afinal, é o mês do dia dos pais. Mas nesse agosto aconteceu algo que não me deixou nem um pouco desgostoso. Recebi uma ligação pela manhã, era um homem, com uma voz meio falha. Dizia-se meu pai e que queria me conhecer. Achei que fosse alguma brincadeira de mal gosto, mas pela sua voz não parecia ser. Pediu meu endereço e eu dei. Talvez não deveria ter dado, já pensou se fosse um ladrão ou sei lá? Mas dei, num gesto de impulso. Por volta das onze horas da manhã a campainha tocou. Abri a porta. Me deparei com um senhor mais baixo que eu, cabelos grisalhos e com um olhar um tanto sofrido. Engoli a saliva e pedi que entrasse e se sentasse. Assim ele fez. No começo havia uma barreira muito grande entre nós, uma espécie de gelo. Até que ele começou a contar o que havia ocorrido. Ele era casado e minha mãe teria sido uma aventura de sua juventude. E eu, apenas o fruto. Ao ouvir o desfecho que a história estava tomando, pedi com um ar constrangedor que ele se retirasse. Ele não insistiu, mas deixou-me o seu telefone, caso eu mudasse de idéia. Passei a semana inteira recordando aquele acontecimento. Estava impaciente. Coincidência ou não, era agosto, mês do dia dos pais. Tomei uma decisão. Liguei para ele pedindo que viesse passar o dia dos pais comigo, eu ia levá-lo para almoçar. Foi então, o meu primeiro dia dos pais, com pai e paz.

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